Adoção das redes sociais exige conhecimento das ferramentas e de suas armadilhas, como a excessiva exposição de professores e alunos
Em agosto deste ano, o noticiário internacional deu destaque para a decisão do Estado norte-americano do Missouri, nos EUA, de proibir o contato de professores e alunos em redes sociais que possibilitem a troca de mensagens privadas (como o Twitter e o Facebook). Desde então, docentes só podem criar páginas públicas, passíveis de serem “curtidas” no Facebook – o objetivo é tornar mais transparente a relação entre professores e estudantes. Para além das motivações por trás da nova legislação – prevenir o abuso sexual infantil –, o caso chama a atenção para um assunto polêmico: as possibilidades e os perigos trazidos pelas redes sociais para a escola.
“As atividades pedagógicas propostas por meio das redes sociais não são novas. A novidade está no canal utilizado, até porque elas fazem uma apropriação de todos os outros canais disponíveis”, diz Eric Messa, professor e coordenador do curso de extensão em Mídias Sociais na Fundação Álvares Penteado (Faap). E justamente por se configurarem como uma ferramenta relativamente nova, pelo menos dentro do campo da pedagogia, e de amplitude imensurável, seu uso traz dúvidas e incertezas. Linda Fogg, parceira do Facebook na criação de um guia para educadores nos EUA (Facebook for Educators), aponta que é necessário, antes de qualquer coisa, que educadores e pais conheçam e se familiarizem com a ferramenta, pois há uma tendência de “temer o desconhecido”. Para ela, ao criar intimidade com o Facebook ou outra rede social, eles estarão mais aptos a orientar os filhos e alunos no uso produtivo e eficiente delas, fazendo com que as redes sociais não sejam apenas um ambiente de distração, mas também de construção de um tempo produtivo.
Um dos usos encontrados pelos docentes foi o de complementar o conteúdo ensinado em sala de aula. Eduardo Castro, professor de geografia do Colégio Sidarta, adicionou recentemente o Facebook à sua lista de métodos educacionais. “Hoje as coisas acontecem em uma velocidade avassaladora e eu sentia falta de ter mais tempo para discutir temas contemporâneos em sala de aula”, conta. Castro criou, então, um grupo fechado na rede social, em que recomenda livros, reportagens, artigos, vídeos e outras mídias possíveis de compartilhar.
Prática de avaliação
Ele conta que as postagens geram debate entre os alunos, que não só ampliam conhecimento sobre um determinado assunto, como também dão origem a novos temas para serem pesquisados e debatidos.
Segundo o docente, o grupo no Facebook mostrou-se uma ferramenta de “EAD aperfeiçoada”. “Com a vantagem de que os próprios alunos também produzem conteúdo, já que eles também trazem material para o grupo, não participando apenas como consumidores do que está presente naquele ambiente”, diz Castro, que hoje já utiliza o meio também para eventualmente tirar dúvidas e medir o grau de participação dos alunos nas redes. Por exemplo: quando posta um texto para ser interpretado, avalia a participação, os comentários e o retorno dos estudantes – as informações contam como “pontos” na avaliação formativa feita por ele em sala de aula.
Limites
Apesar da percepção positiva, sempre existem as ressalvas. “Tanto estudantes como educadores precisam ter consciência de que tudo que é feito nas redes sociais é público e pode gerar uma ressonância não prevista, para o lado positivo e para o negativo”, alerta Eric. Por isso, diz, o educador deve lembrar sempre de seu papel de orientador.
Para combater os perigos da exposição de professores e alunos, Linda Fogg recomenda: é essencial que os educadores não sejam ‘amigos’ de seus alunos nas redes. “É uma forma de manter a intimidade e controlar sua exposição”. Ela atenta também para o cuidado em postagens, vídeos, fotos e, inclusive, marcação (tags) de suas imagens em perfis de outras pessoas. “É preciso ter cuidado com a relação que vai se construir nesses espaços”, concorda Eric. “O professor é uma figura que inspira os estudantes, por isso é recomendável manter uma postura nas redes sociais e separar o perfil profissional do professor e o perfil pessoal”, complementa.
Nesse sentido, Linda recomenda que o professor tenha dois perfis nas redes sociais, para fazer a distinção.
O conselho é que os próprios educadores se policiem no que diz respeito ao uso das redes, para que não se “viciem” e, consequentemente, desperdicem tempo útil. Uma das preocupações do professor Eduardo foi justamente a possibilidade de se transformar em um “professor 24 horas” de seus 65 alunos, já que as redes sociais não são limitadas pelo relógio. Entretanto, a ideia logo se desfez.
“Eles se autorregularam. Não tive experiência de abuso ou desapontamento em relação ao comportamento no ambiente da rede”, explica. Com a experiência, Eduardo pretende ampliar as atuações no Twitter e no Google +. “Quero me familiarizar e entender a diversidade que essas novas ferramentas podem trazer para a ampliação do estudo de minha disciplina”, diz.
A experiência norte-americana |
Nos Estados Unidos, os professores estão fazendo uso das redes sociais tanto dentro da classe como fora dela. Alguns exemplos: |
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Fonte: Editora Segmento
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