Estudantes transformam tablets e smartphones em material escolar
Fonte: O Globo Online
Ficou famoso o vídeo no YouTube em que um professor, irritado com o toque do celular de uma aluna, tira o aparelho da mão dela e o espatifa no chão. Mas isso foi “há séculos”, em 2008. Hoje, com a popularização dos smart-phones, o telefone móvel deixou de ser objeto proibido em sala para, muitas vezes, tornar-se uma bem-vinda ferramenta de pesquisa. É mais um sinal da transformação pela qual as salas de aula vêm passando.
Enquanto se debate a criação de um novo modelo de ensino, com especialistas criticando o processo convencional, mudanças vêm ocorrendo naturalmente. Certas instituições estão investindo em videoaulas, games e laboratórios inovadores.
Na PUC-Rio, por exemplo, estudantes usam celular para tirar foto do quadro ou até para filmar uma explicação mais importante do professor. No Colégio Notre-Dame do Recreio, todos os gadgets são liberados como ferramentas de estudo. São usados pelos alunos para fazer anotações e pesquisas na internet. A ideia é se aprofundar nos temas didáticos, com orientação do professor.
— Gosto de tirar foto do quadro. Assim, fico livre para prestar atenção no que o professor diz. Se preciso, gravo explicações no celular também — conta Rogério Braga, aluno de Geografia da PUC.
As próprias escolas e universidades, isoladamente, vêm testando novidades para dinamizar o ensino. As ferramentas são muito novas e não se sabe ainda onde concentrar investimentos. Uma parceria entre o curso de Relações Internacionais da PUC-Rio e o Departamento de Educação à Distância, por exemplo, permite utilizar vídeos e interatividade na cadeira de Introdução à Política Internacional.
Outra experiência é desenvolvida nos EUA, onde a Escola de Medicina de Stanford, na Califórnia, abraçou o conceito de “sala de aula invertida”, em parceria com a Khan Academy, academia virtual do educador Salman Khan. Segundo esse modelo, o aluno assiste a vídeoaulas em casa e vai à escola para discutir o tema, tirar dúvidas e compartilhar conclusões. “É uma forma de tornar o ensino mais interativo e permitir a construção de um saber coletivo”, disse o diretor da faculdade, Charles Prober, após anunciar a novidade, no fim do ano passado.
Diretor da Escola Politécnica da UFRJ, o professor Ericksson Almendra diz que apenas 25% de suas aulas de Princípios de Ciências dos Materiais são presenciais. O resto acontece nos ambientes virtuais de aprendizado, nos quais ele tira dúvidas por chat, disponibiliza conteúdos, exercícios, áudios e até promove videoconferências.
— A sala de aula está saindo das quatro paredes. Minha aula acaba, mas eu e os alunos continuamos em contato sempre — afirma.
Compartilhamento, interação e flexibilidade. Um novo projeto de sala de aula concebido por um professor de pedagogia da Uerj para dinamizar o ensino vem sendo adotado em diferentes instituições, como a própria universidade estadual, a PUC, a Escola Politécnica da UFRJ e o CAp-Uerj, na Tijuca. Trata-se da Revoluti. As carteiras dos alunos têm notebooks acoplados e, fixadas no chão, giram em torno do próprio eixo, permitindo diferentes formatos dentro de sala.
— Um motivo para o computador não ter sido plenamente aceito em sala é porque os alunos se isolavam de seus colegas. A classe é um lugar de troca de ideias. Com a Revoluti é possível estimular a interação, pois o professor pode circular pelo espaço e organizar a sala em grupos — explica o professor Henrique Sobreira, da Uerj.
Nem todos no meio acadêmico são entusiastas da busca constante por mudanças com viés digital. Muitos professores não querem saber de smartphone em sala. Economista e especialista em educação, Gustavo Ioschpe é cético quando o assunto é alteração do modelo de ensino:
— O método tradicional existe desde a academia de Platão. Nenhum modelo dura tanto sem uma genialidade intrínseca. Várias pedagogias alternativas surgiram, mas se mostraram pouco eficazes. Se algum método vai ser revolucionário, os benefícios precisam ser comprovados empiricamente.
Livros digitais em 2015
Um dos obstáculos da disseminação da tecnologia é a falta de infraestrutura. A partir de 2015, livros digitais começarão a ser distribuídos nas escolas públicas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC). Mas é preciso resolver o problema sério do acesso à internet. No Rio, escolas estaduais receberam um conjunto de games didáticos do programa Sesi Matemática, lançado pelo Sistema Firjan. Mas sua aplicação esbarra na baixa capacidade da banda larga. Subsecretário de gestão de ensino da Secretaria Estadual de Educação, Antônio Paiva Neto explica que o aumento da banda foi pedido e depende das operadoras:
— A banda larga é limitada no Brasil. Mas temos alternativas, como distribuição de modens 3G aos professores.
A secretaria disponibilizou 350 mediadores para ensinar docentes a usar novas ferramentas com eficiência.
— Não adianta dar notebooks e tablets para alunos e professores e a aula continuar sendo uma reprodução do século XIX. É preciso estimular o professor.
Professores usam redes sociais para integrar a turma
Na hora de sugerir mudanças num cartaz que um aluno fez para a disciplina de Linguagem Gráfica, a professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Andréia Resende recorre ao Facebook. Além do ensino regular em sala, ela aproveita a rede social para ampliar as possibilidades de troca de informação e de referências.
— O compartilhamento de informações é uma demanda da contemporaneidade. Uso referências da rede como material didático e compartilho no Dropbox e no Facebook — diz a professora.
Assim como Andréia, outros professores e alunos enfrentam o desafio de usar todo o potencial educativo das redes sociais e aplicativos. Os sites de relacionamento se tornaram um novo e experimental ambiente para o compartilhamento de conteúdo entre professores e alunos. Grandes universidades ainda engatinham nesse assunto, mas experiências interessantes começam a surgir, aos poucos, pelo país. Como a de Luiz Fernando Ferraz da Silva, professor de Patologia Geral da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Ele criou, no ano passado, um aplicativo que serve como um hub de imagens, vídeos da disciplina espalhados pelas redes. O desafio, diz ele, é a mobilidade do conteúdo, que será cada vez mais descentralizado.
— O ambiente virtual é um complemento do ensino. O desafio do futuro é disponibilizar ao aluno o acesso ao conteúdo para que ele possa estudar onde estiver — diz Silva, ao avaliar que o aplicativo reflete a reformulação da dinâmica do aprendizado.
Conhecido por levar conceitos bastante inovadores ao método de ensino, o Colégio Estadual José Leite Lopes, o Nave, na Tijuca, usa Facebook para divulgar trabalhos de grupo. Já o Colégio e Curso de _A_Z, utiliza o Formspring para orientar alunos sobre carreira e vestibular. O professor Bruno Rabin afirma que o importante é acompanhar as ferramentas.
— Criamos um blog há anos. Hoje, o Facebook e o Formspring nos conectam imediamente com os nossos alunos — observa Rabin.
Para seguir e curtir
@prof_Jubilut
Com mais de 36 mil seguidores, o perfil do professor Paulo Jubilut no Twitter é uma boa pedida para quem quer colocar em dia os estudos em Biologia. Além das dicas em 140 caracteres, você também pode aprender no site Biologia total.
@tioivys
É só começar a seguir a página do professor Ivys Urquiza Galvão no Twitter para ficar por dentro dos mais diversos assuntos, como corrente elétrica, termometria e movimento retilíneo uniforme. A física também é tema do seu blog.
História & Vestibular
Nesta página do Facebook você encontra textos, vídeos, infográficos e resoluções de questões de História para o vestibular.
Eduardo Sabbag
O @professorsabbag dá dicas de Direito Tributário e Língua Portuguesa no Twitter e no Facebook.
Sites e aplicativos bombam com games e videoaulas para o Enem
Seja no trânsito, na hora do almoço ou na sala de espera do consultório médico, todo lugar é lugar e toda hora é hora para estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Sites, cursos on-line e aplicativos voltados para o maior exame do país permitem que você aproveite qualquer tempo livre para se preparar para a prova. Conteúdo objetivo, rápido e barato é a fórmula de sucesso dessas empresas na internet.
Com mais de 1 milhão de alunos e 3,5 milhões de visualizações no YouTube, o cursinho pré-vestibular on-line “Descomplica” combina conteúdo pago e gratuito. As aulas regulares são formadas por sequências de até oito vídeos curtos, com 5 minutos de duração cada, em média. Há 3 mil vídeos disponíveis no acervo, e 370 são grátis.
— A linguagem da internet exige curta duração, objetividade e diversão. Competimos com Lady Gaga, Justin Bieber e “Porta dos Fundos”. Temos que chamar a atenção do estudante — diz Marco Fisbhen, professor de física e criador do “Descomplica”.
No plano anual, a mensalidade do curso sai por R$ 9,68, com direito a duas redações corrigidas por mês.
No Facebook, o aplicativo “Ligado no Enem” é um cursinho on-line com 330 mil usuários. A equipe investe na produção de games e lançará, em março, uma nova versão, na qual estudantes poderão ganhar pontos nos simulados do Enem. A recompensa será o acesso a serviços pagos, como aulas on-line e exercícios de várias disciplinas.
— Selecionamos professores conceituados de diferentes cursinhos de São Paulo e utilizamos a rede social, que é o ambiente em que as pessoas mais navegam — afirma Marco Antônio Contreras, diretor da Digiminds, criadora do aplicativo.
Há também aplicativos para celular com questões de edições anteriores do exame. O “Pense + (Enem)” tem 350 perguntas para resolver offline e pode ser baixado gratuitamente no Google.
Cursos online
O “Mande bem no ENEM” é um curso gratuito que possui 42 videoaulas e 400 exercícios. Já o “Descomplica” (Descomplica.com.br) é um site com centenas de videoaulas de diversas disciplinas.
APPS para celular
O aplicativo “Descubra o Enem” foi criado pelo Colégio Pentágono, do Rio de Janeiro. Gratuito na Apple Store, ajuda a identificar quais tópicos precisam ser reforçados. Com 180 questões, faz diagnóstico do desempenho. Já o “Simulado Enem”, disponibilizado pelo Colégio 7 de Setembro, de Fortaleza, Ceará, tem 180 questões e oferece contagem de tempo e estatística de erros e acertos. Para iPhone, iPod e iPad. Pode ser baixado gratuitamente na Apple Store.
Games
Gratuito, o game “Enem Wars” permite que o usuário assuma o comando de uma espaçonave e, com ela, detone asteroides e responda a questões de interpretação de texto em apenas 30 segundos. O site não revela a resposta certa quando o jogador erra. Também gratuito, o jogo “Saiba + Enem” é um aplicativo do Facebook com mais de 3 mil questões. O jogador recebe uma chave e pode responder a cinco questões por dia.
Turbinados pela força do coletivo
Camila Zattar, de 20 anos, foi aceita na Universidade de Berkeley, nos EUA. Ela já está lá, na Califórnia, sendo bancada pela família, mas publicou seu perfil no “Eduqueme”, um site de crowdfunding criado por estudantes de São Paulo.
Camila é uma das estudantes cujos currículos estão exibidos na página. A ideia do site é atrair empresas para patrocinar os estudos deles, com o objetivo de investir em futuros, e valiosíssimos, funcionários. Crowdfunding virou palavra conhecida no Brasil graças a iniciativas ligadas à música, como shows financiados pelo público e discos bancados com dinheiro dos fãs de diferentes bandas. Mas, na primeira versão brasileira do “Horizon Report”, um dos principais estudos mundiais sobre tecnologias e educação, divulgado em novembro de 2012, projetos de crowdfunding na área da educação foram vistos como tendência no Brasil.
No site “Benfeitoria”, por exemplo, 21% das propostas são relacionadas à educação. Já no “Catarse”, maior site de crowdfundig no Brasil, pelo menos metade dos projetos na área foram viabilizados. O Sistema Pontual de Ensino é um deles. Criada por estudantes do Instituto Militar de Engenharia (IME), a iniciativa captou R$ 7.733 para preparar alunos de escolas estaduais em ano de vestibular.
Como explica um dos responsáveis, Rafael da Silva, de 24 anos, trata-se de uma plataforma com vídeos, simulados e apostilas. Por ora, a ferramenta é disponibilizada para alunos de um curso pré-vestibular comunitário na Ilha do Governador. Para reunir a verba necessária, o grupo levou um mês e meio e contou com 96 colaboradores. Mas os ganhos, garante Rafael, foram muito além.
— Com o financiamento compartilhado, tivemos mais visibilidade, e mais pessoas quiseram integrar o projeto.
No crowfunding, a verba só é usada se alcançada por completo. Caso contrário, o dinheiro volta aos colaboradores. Além disso, o doador pode receber algo em troca.
No projeto de expansão do site “Me Salva”, que disponibiliza tutoriais de cálculos, quem ajudou com R$ 10 teve o nome lembrado na página. Já quem contribuiu com mais de R$ 75 ganhou uma camiseta exclusiva. A dobradinha deu certo. Em cerca de dois meses, o projeto angariou R$ 6.500 — 130% da meta. Seu idealizador, o estudante de engenharia de produção Miguel Andorffy, de 22 anos, explica que, agora, o conteúdo abrangerá mais áreas do conhecimento e terá novos mecanismos de interação.
No “Eduqueme”, os brasileiros aprovados em universidades gringas montam seus perfis com o objetivo de atrair empresas para custear suas despesas. Cada bolsa pode ser bancada por até quatro empresas. Em troca, os estudantes atuam como estagiários ou trainees nessas corporações. Não é fácil. A projeção de despesas de Camila até o fim de seu curso é de R$ 300 mil. Mas os criadores do site são otimistas.
— Esperamos finalizar este ano com 30 bolsas concedidas, totalizando quase R$ 15 milhões — explica Gustavo Braga, de 18 anos, estudante de Ciências da Computação no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Luís Otávio Ribeiro, do “Catarse”, ensina o caminho para emplacar na área.
— Ganham destaque projetos nos quais os idealizadores criam outras iniciativas derivadas. Noto uma busca por novas modalidades na área de educação.
Mobilizados
Voando alto
Você foi aprovado em universidades americanas, mas não tem como se bancar lá fora? Acesse “Eduqueme.com” e monte o seu perfil. Você poderá chamar atenção de empresas interessadas em bancar seus estudos lá fora.
Compartilhe uma ideia
Nos sites “Catarse.me” e “Benfeitoria.com” você pode reunir verba para tirar seu projeto do papel ou colaborar com as ideias inscritas.
Livro digital: o didático do futuro
Quem não sonha em se livrar da mochila pesada cheia de livros e cadernos, e ter todo o material didático no próprio tablet ou notebook? O livro digital promete mudar a rotina dos estudantes e já é realidade em escolas particulares do Rio de Janeiro e do Brasil.
A versão digital é acessada por dispositivos móveis ou computadores e folheada, assim como o jornal digital. As soluções variam, mas, em geral, ícones no livro (impresso ou digital) indicam o conteúdo interativo, hospedado no site das editoras. Ilustrações se transformam em vídeos, letras de música em áudio e exercícios complementares podem ser resolvidos on-line. O aluno lê, grifa e anota – como sempre fez, mas agora no computador.
— A divisão celular que antes era apresentada apenas por uma imagem no papel fica muito mais rica com uma animação — exemplifica Ronyse Pacheco, diretora da Editora SM.
A empresa criou uma plataforma on-line na qual estudantes e professores podem discutir em fóruns e trocar mensagens. O pacote de serviços oferecido às escolas também inclui área de apoio ao professor com galeria de recursos para utilizar em sala de aula e formação continuada a distância.
— É preciso identificar a melhor ferramenta e mídia para cada conteúdo. Em momentos que necessitam interatividade, o papel não é o meio mais adequado. Mas pode ser na hora de uma leitura aprofundada — afirma Emerson Santos, diretor-geral da Editora Positivo.
Escola pública
A partir de 2015, o livro digital começará a ser distribuído às escolas públicas de Ensino Médio do Brasil pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação (MEC). O edital para as editoras enviarem seus produtos está aberto e o material deverá ser entregue para avaliação em agosto.
O MEC exige que o livro digital tenha todo o conteúdo do impresso integrado a soluções multimídia, como mapas, vídeos, jogos educacionais, infográficos, áudios, sites etc. Login e senha para estudantes e professores baixarem o material multimídia no site das editoras deverão vir impressos na versão em papel. O livro digital deverá ser utilizado sem necessidade de conexão com a internet, a não ser no primeiro acesso para baixar o material.
Editores descrevem um cenário de efervescência na preparação dos materiais digitais. Professores, autores, técnicos em games, engenheiros de computação gráfica, profissionais de diferentes áreas trabalham juntos para identificar tendências, bolar soluções interativas para o conteúdo didático e descobrir como serão as aulas do futuro.
— O livro digital está em construção. A sala de aula vai ficar mais bacana. Nosso objetivo é antenar o aluno com o mundo em que ele vive, que é muito digital. A escola não pode ficar atrás — diz Sônia Cunha, diretora editorial da Moderna.
A tecnologia facilita a vida de estudantes e professores, mas exige infraestrutura de primeiro mundo. Para baixar o livro e acessar conteúdos on-line, é preciso ter computadores com alta capacidade de armazenamento e banda larga potente nas escolas e nas casas dos alunos. Uma combinação ainda distante da realidade brasileira.
Fonte: Todos pela Educação
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